Mesa Temática 1
Que estratégia de desenvolvimento o aeroporto vai servir?
Âmbito e Objetivos
Portugal é uma pequena economia, com elevado endividamento e com uma dinâmica demográfica muito negativa. Estas circunstâncias tornam as exportações de bens e serviços essenciais para o crescimento da economia portuguesa. As exportações de serviços, nomeadamente na área do turismo, têm dado uma contribuição fundamental para o crescimento da economia portuguesa e para o equilíbrio da balança comercial. O aumento do valor das exportações de bens e serviços é também essencial para o crescimento económico e da produtividade, e depende de forma crucial da inserção nas grandes cadeias globais de valor. Dada a posição geográfica de Portugal, a qualidade da conectividade internacional, em particular das ligações aeroportuárias, é um fator determinante dos custos de transporte e, assim, da competitividade das exportações portuguesas e do desenvolvimento da economia portuguesa. Nesta mesa temática serão discutidas as relações entre a posição geográfica de Portugal, o papel da conectividade internacional na competitividade e as suas implicações para o desenvolvimento da economia portuguesa como contexto estratégico para decisão sobre as opções estratégicas em relação ao aeroporto da região de Lisboa é o objetivo desta mesa temática.
Resultados 1ª Sessão
A posição de Portugal na economia mundial
Coordenação: Fernando Alexandre
Relator: Fernando Alexandre
Ideias chave:
- Portugal é um país periférico na Europa, mas central no Atlântico.
- A política externa portuguesa teve sempre três prioridades: a Atlântica, a Europeia e a Africana.
- A UE é o nosso espaço privilegiado de integração económica, mas é fundamental crescer mais no comércio extracomunitário.
- O novo aeroporto de Lisboa ganha importância acrescida porque vivemos numa era em que a economia europeia tem vindo a perder peso na economia mundial.
- O stock de capital, nomeadamente em infraestruturas, é um importante fator determinante do crescimento económico no longo prazo.
- A elevada dívida pública e as pressões sobre a despesa pública (e.g., prestações sociais) têm limitado a capacidade de investimento do país e tornam o modelo de financiamento do novo aeroporto muito importante.
- A fragilidade financeira do país das últimas décadas determinou que as infraestruturas mais relevantes para a conectividade internacional do país sejam hoje controladas por estrangeiros.
Sumário da discussão dos participantes
Portugal é um país periférico na Europa, mas central no Atlântico. Para garantir a independência face a Espanha, Portugal tornou-se um especialista no multilateralismo, procurando sempre alianças com uma grande potência europeia e com uma grande potência atlântica. A política externa teve sempre três prioridades – a Atlântica, a Europeia e a Africana –, cuja importância variou ao longo da história.
A pertença à UE e ao euro funcionam como uma proteção contra choques externos. Desde a adesão à EU, o comércio com a Europa Continental ganhou importância. A Espanha, um parceiro comercial irrelevante até 1985, tornou-se no principal mercado das exportações portuguesas (cerca de 25% do total) e o principal fornecedor de importações, levando alguns a questionar se não haverá uma excessiva dependência em relação ao país vizinho. Em termos globais, 85% do comércio externo português é feito com países europeus. A guerra na Ucrânia, qualquer que seja o seu desfecho, terá consequências para a Europa. A Ucrânia, se integrada no espaço europeu, deslocará o centro da Europa ainda mais para Leste, tornando a posição de Portugal ainda mais periférica.
A especialização económica é determinada pela integração internacional da economia. A UE é o nosso espaço privilegiado de integração económica, mas é fundamental crescer mais no comércio extracomunitário. De facto, o Atlântico nunca deixou de ser importante para Portugal. O Brasil, com a sua crescente comunidade imigrante, tem ganho importância. A dimensão Africana, nomeadamente via CPLP, continua muito aquém do seu potencial em termos de relações comerciais. O potencial da grande diáspora portuguesa está também ainda por aproveitar, podendo contribuir para alargar e aprofundar a ligação da economia portuguesa ao mundo. O novo aeroporto de Lisboa ganha importância acrescida porque vivemos numa era em que a economia europeia tem vindo a perder peso na economia mundial. Na perspetiva de alguns, o aeroporto deve aproximar-nos do mundo anglo-saxónico.
Em Portugal, a discussão sobre o crescimento económico a longo prazo e as reformas estruturais tem estado muito presente e tem sido motivada pelo desempenho relativamente dececionante da economia nas últimas décadas, que interrompeu o processo de convergência real com a média da UE. Tratando-se de uma pequena economia aberta (ou de uma economia média e relativamente fechada) o crescimento das exportações é essencial para o crescimento económico do país. Este depende das condições de competitividade da economia, sendo essencial ter indicadores que permitam medir a sua evolução face aos principais concorrentes externos.
A competitividade é a capacidade de um país utilizar e combinar recursos e competências disponíveis para produzir e vender bens nos mercados internacionais, gerando riqueza de forma sustentável e garantindo elevados padrões de vida para os seus cidadãos. Índices de competitividade mostram um fraco desempenho de Portugal em várias dimensões, apesar de ligeiras melhorias nos últimos anos.
Portugal distingue-se no contexto europeu pelo baixo rácio capital-trabalho. O stock de capital, nomeadamente em infraestruturas, é um importante fator determinante do crescimento económico no longo prazo, sendo fundamental garantir uma alocação eficiente dos recursos. No entanto, os investimentos têm sempre um custo de oportunidade, que deve ter em consideração as distorções decorrentes da sua forma de financiamento.
A elevada dívida pública e as pressões sobre a despesa pública (e.g., prestações sociais) têm limitado a capacidade de investimento do país e tornam o modelo de financiamento do novo aeroporto muito importante. Neste contexto, o contrato entre o Estado e ANA, S.A. deve ser alvo de análise e de avaliação. A fragilidade financeira do país das últimas décadas determinou que as infraestruturas mais relevantes para a conectividade internacional do país, que são essenciais para a sua competitividade, sejam hoje controladas por estrangeiros.
A escolha da localização de um aeroporto é um problema multidimensional (distância, custo, ambiente, …) incluindo muitos factores de incerteza, exponenciados pela sua longa vida útil. O aeroporto deve ser flexível para se ajustar às múltiplas mudanças (na tecnologia, na especialização da economia, novas formas de mobilidade etc.) que ocorrerão num período de 50 anos. Em particular, deve salientar-se que o tipo de procura é relevante para a escolha do tipo de aeroporto. Nesse contexto, refira-se por exemplo a importância crescente dos serviços, e que Lisboa é hoje um dos locais mais procurados do mundo para a realização de congressos.
O aeroporto de Lisboa é fundamental para dar projeção internacional à região de Lisboa, que pode ser entendida numa perspetiva mais ampla.
Resultados 2ª Sessão
Internacionalização e integração da economia portuguesa no mundo
Coordenação: Fernando Alexandre
Relator: João Fragoso Januário
Ideias chave:
- É fundamental alinhar a estratégia do aeroporto com a estratégia do país e da cidade.
- O crescimento da globalização abrandou a nível mundial. Portugal tem estado em contraciclo, com um aumento das exportações mais pronunciado que o crescimento do PIB, tendo o peso das exportações no PIB ultrapassado os 50% em 2022.
- A conectividade internacional é essencial para manter a dinâmica positiva entre turismo e exportações, permitindo também uma maior diversificação da estrutura produtiva da economia portuguesa.
- O transporte aéreo é rápido, cobre longas distâncias, e é utilizado por produtos de alto valor unitário. Embora o transporte de carga não seja a função principal do aeroporto, é preciso ter em conta essa função, que tem um enorme potencial para crescer.
- A customização na produção tem vindo a crescer em detrimento da produção em massa, e isso poderá ser importante para a exportação por transporte aéreo.
- É fundamental que haja espaço na infraestrutura para albergar o aumento da carga aérea (equipamento de grande valor acrescentado, nomeadamente como resultado de práticas de just-in-time e de e-commerce).
- Há uma grande correlação entre turismo e exportações, porque grande parte do turismo é também executivo. Por exemplo, o crescimento de exportação de vinho para o Brasil e para os Estados Unidos acompanha o crescimento de turistas destes mercados.
- A conectividade internacional e a frequência de ligações ponto-a-ponto são essenciais para que os investidores considerem nas suas escolhas Lisboa/Portugal. Os executivos em viagens de negócios precisam de ligações rápidas ao centro da cidade.
- A estratégia do aeroporto tem de estar alinhada com a estratégia das companhias aéreas e os mercados de longa distância são prioritários para o turismo, cujo grande objetivo é diversificar os mercados.
- Os turistas de mercados de longa distância são os que ficam mais tempo no país e que acabam por contribuir mais para a economia.
- A tendência bleisure ou blended travel aumenta a importância da facilidade de viajar.
Sumário da discussão dos participantes
A Mesa Temática subordinada ao tema da “Internacionalização e integração da economia Portuguesa no mundo” abordou a evolução da globalização a nível global e na economia portuguesa, a importância do transporte aéreo no transporte de mercadorias, as exportações e o investimento direto estrangeiro e a circulação e atração de talento associadas às novas formas de trabalho e turismo.
O crescimento da globalização abrandou a nível mundial, desde a crise financeira internacional de 2008, com o comércio internacional a crescer menos do que o PIB. Portugal tem estado em contraciclo, com um aumento das exportações mais pronunciado que o crescimento do PIB, tendo o peso das exportações no PIB ultrapassado os 50% em 2022. Os períodos de maior crescimento económico em Portugal estiveram associados a um maior envolvimento na globalização.
Portugal encontra-se num estado menos avançado que a média dos países da União Europeia (UE), tendo como principal exportação os produtos de manufatura avançados e serviços, onde se destaca o turismo, contrastando com uma maior concentração da EU em atividades inovadoras. A melhoria no perfil das exportações requer uma melhoria da competitividade das empresas portuguesas, da qualidade dos produtos e das qualificações da força laboral. O reduzido número de grandes empresas é uma barreira à exportação.
Foi discutida a questão da dependência produtiva da Europa face a outras localizações e como isso poderia influenciar a estratégia da economia portuguesa. É fundamental perceber as tendências e mudanças nas cadeias globais de valor e identificar as melhores oportunidades para nelas participar nos segmentos de maior valor.
O turismo, para além da sua importância no PIB, no emprego e na balança comercial tem dado um contributo fundamental para a promoção de Portugal no exterior e, assim, para o arrastamento do crescimento das exportações nos países de origem dos turistas. A conectividade internacional é essencial para manter essa dinâmica positiva entre turismo e exportações, permitindo também uma maior diversificação da estrutura produtiva da economia portuguesa.
A análise das tendências e a forma como elas impactam no nosso país são muito relevantes e devem ser tidas em conta na alocação dos recursos de modo a alavancar e aproveitar essas tendências. No entanto, para definir a estratégia para o país e o modelo de aeroporto que queremos é mais importante analisar escolhas do que tendências.
A escolha na alocação dos recursos é da maior importância para atrair e fixar talento, sobretudo porque o nosso futuro vai depender das pessoas mais do que dos bens. Fará sentido apostar num modelo de terciarização com valor. Atrair e reter agentes inovadores da economia do conhecimento. A localização do aeroporto será decisiva para este modelo da economia que queremos. A escolha da opção para a construção do aeroporto, pelo seu carater estrutural e de longo prazo, deve ter em conta as tendências e a estratégia para o país. Em particular, considerou-se importante identificar as áreas onde podemos crescer sem sermos imitados, alinhados não só com a procura presente, mas com a procura futura, e fomentar um ambiente de negócios que responda a essa procura.
A ideia de pequena economia foi contestada, devendo valorizar-se o facto de estarmos num dos maiores blocos económicos do mundo, e o facto de, dentro da UE, quer pela população quer pelo território, pertencermos ao grupo de países de média dimensão.
O transporte aéreo é rápido, cobre longas distâncias, e é utilizado por produtos de alto valor unitário. Embora o transporte de carga não seja a função principal do aeroporto, é preciso ter em conta essa função, que tem um enorme potencial para crescer. Os dados das exportações de mercadorias portuguesas mostram que os meios de transportes mais utilizados (por ordem decrescente) são o rodoviário, o marítimo, o aéreo e ferroviário. No entanto, por custo decrescente de valor unitário (€/kg) destaca-se o transporte aéreo (muito superior), o ferroviário, o rodoviário e, por último, marítimo. A maquinaria e equipamento de tratamento informático e da informação, os produtos farmacêuticos, e o vestuário são os produtos/sectores mais expedidos por via aérea. A customização na produção tem vindo a crescer em detrimento da produção em massa, e isso poderá ser importante para este tipo de exportação. Foi ainda referido que a exportação de máquinas e equipamentos é geralmente acompanhada por técnicos especializados na instalação e que Portugal é “campeão de pequenas séries” no vestuário. Destacou-se também a produção para e-commerce, uma dimensão da distribuição que tem crescido exponencialmente, o que valoriza muito as infraestruturas aeroportuárias. É fundamental que haja espaço na infraestrutura para albergar o aumento da carga aérea (equipamento de grande valor acrescentado, nomeadamente como resultado de práticas de just-in-time e de e-commerce).
Há uma grande correlação entre turismo e exportações, porque grande parte do turismo é também executivo. Por exemplo, o crescimento de exportação de vinho para o Brasil e para os Estados Unidos acompanha o crescimento de turistas destes mercados.
O valor de investimento direto estrangeiro (IDE) tem tido um aumento significativo. Os contratos feitos têm sido mais diversificados em termos de nacionalidades, tanto a nível europeu como de outros continentes, neste caso com destaque para os Estados Unidos, o Brasil, a Coreia do Sul e o Japão. Em termos de IDE, tem-se assistido também a uma maior diversificação. Também as empresas exportadoras, a partir de uma certa dimensão, têm conseguido diversificar os mercados rapidamente, refletindo a sua capacidade inovadora. Os business service centres tiveram um grande crescimento, devendo destacar nessa área os centros de desenvolvimento de software e o sector financeiro.
Na atração de IDE e para o desenvolvimento das empresas exportadoras é fundamental ter um aeroporto ligado a um número máximo de geografias, a escala do aeroporto deve permitir ter acesso a voos do mundo inteiro. A conectividade internacional e a frequência de ligações ponto-a-ponto são essenciais para que os investidores considerem nas suas escolhas Lisboa/Portugal. Os executivos em viagens de negócios precisam de ligações rápidas ao centro da cidade. O processamento alfandegário tem que ser rápido e a qualidade de todos os serviços aeroportuários é também essencial.
No sector do turismo destaca-se o aumento de visitantes americanos e brasileiros, sendo que destes 70% dos que passam no aeroporto não ficam em Portugal. A estratégia do aeroporto terá que estar alinhada com a estratégia das companhias aéreas e os mercados de longa distância são prioritários para o turismo, cujo grande objetivo é diversificar os mercados. Os mercados de longa distância são também os que ficam mais tempo no país e que acabam por contribuir mais para a economia. O limite de capacidade do Aeroporto Humberto Delgado está a fazer com que sejam recusados voos da Coreia, do Japão e de outros mercados do interesse para o turismo português.
A estratégia de desenvolvimento deverá basear-se nas nossas forças, nomeadamente no lifestyle ou well-being, que é o maior ativo de Portugal, dado que é uma característica do país que não pode ser imitada facilmente. Nesta abordagem, reside o sucesso de projetos como o campus da Nova SBE em Carcavelos. A vantagem competitiva do lifestyle também se reflete no facto de Lisboa surgir com a terceira melhor cidade do mundo para remote working.
A sustentabilidade ambiental e social ganhará importância no futuro. O trabalho à distância poderá reduzir as deslocações, mas ainda assim vão existir locais de encontro/aglomeração tornando essencial a existência de boas ligações aéreas (por exemplo, para reuniões com clientes). O digital evita algumas deslocações, mas proporciona outras viagens porque as pessoas podem estar a trabalhar em qualquer lado. A tendência bleisure ou blended travel (uma mistura entre negócios – business – e lazer – leisure e outras atividades) aumenta a importância da facilidade de viajar. O futuro económico do país passará pelo blended dos usos funcionais urbanos. Uma habitação já não é só uma habitação, e uma empresa também poderá ter mais vocações. Um dos basics de segurança será a capacidade de ligação internacional.
Em suma, na reunião foram discutidos vários tópicos relacionados com a economia portuguesa, incluindo o papel do transporte aéreo nas exportações, a importância do aeroporto de Lisboa, a estratégia de exportação e investimento produtivo, e o trabalho remoto. Foram também discutidos vários fatores que afetam a competitividade de Portugal, incluindo a qualidade do transporte e da mobilidade, a diversificação dos mercados de exportação, e a necessidade de gerar valor acrescentado. Também foi mencionada a importância de um aeroporto que esteja ligado a um número máximo de geografias e que tenha capacidade para albergar o aumento da carga aérea. Houve consenso sobre a necessidade de alinhar a estratégia do aeroporto com a estratégia do país e da cidade.